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Aumenta depressão na terceira idade; saiba como detectar e prevenir


Aumenta cada vez mais a depressão na terceira idade. Os motivos são vários: sentimento de improdutividade, falta de atenção da família ou mesmo o abandono, ausência de vida social, além de fatores genéticos e de personalidade. A doença pode vir mascarada de demência ou, por exemplo, o Alzheimer. O importante é que há como prevenir, principalmente as pessoas que ainda não chegaram à terceira idade e precisam se organizar para uma velhice ativa, afastando assim os riscos da depressão.

Segundo o psiquiatra, Sebastião Mauricio Bianco, um grupo de várias universidades realizou uma pesquisa sobre o índice de depressão no mundo e fizeram uma entrevista em diversos países. O Brasil foi campeão mundial, com 20% da população depressiva. “E na população de idosos esse número é muito maior”, acrescenta.


CAUSAS

A depressão, segundo o médico, é causada por três fatores: genética, eventos estressantes e o psicológico de cada um. “Nesse sentido o idoso sofre, além da hereditariedade da doença, o aumento dos fatores estressantes com o avançar da idade”.

Bianco explica que as perdas do trabalho, dos amigos, parentes, vão ficando cada vez gritantes e a isso se soma uma série de limitações físicas e psicológicas.

Do ponto de vista de saúde mental, o mais saudável é a capacidade de adaptação. “Quanto mais eu me adapto a uma situação difícil, mais capaz eu sou. E o idoso vai perdendo essa capacidade adaptativa, favorecendo assim o surgimento da depressão”, explana.


CARACTERÍSTICAS NA 3ª IDADE

Segundo Bianco, as características da depressão nessa fase da vida são um pouco diferentes do que em outras faixas etárias. “Ela é uma depressão mais grave, mais ansiosa, mais frequente, com mais recaídas e a recuperação é muito lenta”.

Isso acontece porque a medicação é delicada. Há risco de interação medicamentosa, em que um remédio tira o efeito do outro, já que idosos costumam tomar muitos fármacos.

Também existe o problema dos efeitos colaterais mais graves. “Além do que, existem alguns remédios que os idosos tomam pra diversos problemas que podem causar depressão, como Metildopa (para hipertensão) e corticóides (para doenças alérgicas)”. O psiquiatra ainda salienta que alguns tumores, como de cabeça ou de pâncreas, podem simular a depressão.

A maioria dos antidepressivos atrapalha muito a vida sexual e, em se tratando do idoso – que já tem certa dificuldade nessa área – o tratamento deve ser ainda mais cauteloso. O problema é que, os melhores antidepressivos, são muito caros. “A prefeitura de Umuarama é uma das poucas da região que disponibiliza alguns remédios de excelente qualidade para o idoso”, pontua.

Juntando a alta quantidade de remédios, toda a aposentadoria acaba ficando na farmácia, e isso é mais um agravante, segundo Bianco.


PSEUDO DEMÊNCIA

Existe um tipo de depressão muito frequente na terceira idade chamada de pseudo demência, com sintomas característicos de uma demência normal: esquecimento, desorientação no tempo e espaço, etc. “Ao tratar como depressão, esses problemas são resolvidos. Por isso temos que ter muito cuidado. Às vezes os sintomas são de Alzheimer, por exemplo, quando na verdade o idoso está depressivo”.

DIFICULDADES

“Na nossa cultura o idoso é querido, mas não é desvalorizado. A partir do momento em que você se aposenta, você deixa de ser teoricamente produtivo e isso começa a gerar uma série de conflitos”, aponta o psiquiatra.

As decisões do idoso não são estimadas, a vida das pessoas ao redor é muito corrida e ninguém tem tempo de conversar com eles, causando assim um isolamento. “Por isso, se for feito um teste, a população do asilo provavelmente será mais de 50% depressiva”, analisa.

Além da questão familiar, existe um agravante que engloba a morte das pessoas que o idoso convivia. Isso faz com que ele vá percebendo que a sua hora está chegando, principalmente com o aparecimento das doenças crônicas. “É uma série de coisas que começam a aparecer e pro homem acaba sendo um pouco mais complicado do que para a mulher”.

Segundo Bianco, a mulher – por uma característica de vida – executa no seu cotidiano três ou quatro funções: é esposa, mãe, dona de casa e trabalha fora. Ao se aposentar, ela só deixa de lado uma das suas atividades. O homem que só ficava no trabalho fica sem ter o que fazer. “Aí é complicadíssimo porque ele fica chato, olhando quanto o relógio está marcando de gastos de luz, água; implica com as compras, se a mulher está gastando muito, etc.”, conta.

Com isso, sobra para o homem ir ao boteco jogar baralho. “A vida fica muito pobre, inclusive a incidência de alcoolismo entre os idosos está aumentando assustadoramente”, alerta.


COMO PREVENIR

Segundo Bianco, a maior prevenção é a amizade, a vida social, a dedicação a algo. “É muito importante que ninguém fique preso exclusivamente ao trabalho. Eu não posso pensar que vou me aposentar e vai ser maravilhoso, eu tenho que ir me preparando, ter outras atividades, gostar de outras coisas, desejar, por exemplo, serviços voluntários, frequentar Centros de Convivência, grupos de oração e estudo bíblico nas igrejas, tudo isso ajuda muito”.

Porém, todas essas mudanças não podem começar apenas na terceira idade. “Essa preparação deve iniciar cedo”, alerta Bianco. “Quanto mais precocemente o indivíduo ampliar suas possibilidades de se exercitar física e mentalmente, melhor será sua velhice”, finaliza.


Abandono em casas de permanência

Segundo a coordenadora da Casa de Longa Permanência, Lar São Vicenti de Paulo, Maria Mendes, do total de 98 internos, a média é de que 15% deles tenham depressão, além dos problemas físico-mentais.

“Quando percebem que foram abandonados pela família, perderam a convivência com a sociedade e os amigos não vêm visitar, geralmente apresentam os sintomas da depressão”, explica.

Porém, cada um com indícios distintos, de acordo com a personalidade. “Geralmente ficam tristes, isolados, mas não costumam falar que sentem falta de algo. Acabam guardando pra si, por causa do amor à família”.

Segundo Maria, uma minoria dos familiares e amigos visita os internos com freqüência, e por “freqüência” entende-se de dois em dois meses, no máximo. “Daí eles acabam criando no Lar um novo universo, uma nova sociedade, já que os amigos de jogar baralho na praça sumiram. Aqui eles substituem a família nuclear, já que sem uma família fica muito difícil viver”, finaliza.

“No Brasil, impressiona a rapidez com que o envelhecimento tem ocorrido, visto que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano de 2025, a população idosa no Brasil crescerá 16 vezes, contra cinco vezes da população total. Isso classifica o país como a sexta população do mundo em idosos, correspondendo a mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade (OMS, 2006). Esse aumento da população idosa esta associado à prevalência elevadas de doenças crônico-degenerativas, dentre elas aquelas que comprometem o funcionamento do sistema nervoso central, como as enfermidades neuropsiquiátricas, particularmente a depressão”.

Em números

20%
Dos brasileiros tem depressão, segundo estudo feito por várias universidades do mundo. O número aumenta vertiginosamente entre idosos;

15%
Dos internos na Casa de Longa Permanência São Vicente de Paulo têm depressão, sem contar nos problemas físico-mentais

16 vezes
Crescerá a população idosa no Brasil até 2025, segundo a Organização Mundial da Saúde

“A mulher – por uma característica de vida – executa no seu cotidiano três ou quatro funções: é esposa, mãe, dona de casa e trabalha fora. Ao se aposentar, ela só deixa de lado uma das suas atividades. O homem que só ficava no trabalho fica sem ter o que fazer, por isso a depressão é mais presente entre eles”.
(Sebastião Maurício Bianco, psiquiatra)

“Quando percebem que foram abandonados pela família, perderam a convivência com a sociedade e os amigos não vêm visitar, geralmente apresentam os sintomas da depressão”.

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